julho 24, 2012

Feche a porta.

Aquela casa fria refletia o que realmente sentia e como aquela mulher era. Tremia muito, olhava o nada e estava morta por dentro. Um sorriso levemente irônico aparecia.
Escutava o tinir dos talhares, o barulho que fazia enquanto mastigava, via a indiferença que estava naquele lugar, podia ver que nada daquilo fazia real sentido, não era o lugar, era ela.
O tempo passava e sua vida não mudava, ali no mesmo canto do quarto, a mesma música tocava e a bagunça nunca aparecia, se tinha algo que odiava era ver suas coisas jogadas.
Os livros e os discos sempre foram suas melhores companhias, aquela maça em cima de sua mesa já apodrecida havia perdido a vida igual ela... achava isso.  Queria acreditar que não valia a pena lutar por nada.
Lutou uma vida para conseguir estar ali, naquela casa sozinha, os quadros pendurados, fotos de um passado em que o sorriso era grande e a vontade de viver também, mas era um sorriso não muito verdadeiro. Gostava de ficar admirando e lembrando de como foi gostoso viver, de como seria gostoso voltar a viver.
Decide levantar de sua cama e abrir a janela. Ouve um morcego passando, era noite e fazia 5 dias que não abria as janelas, não via o céu ou via pessoas. Gostava daquilo, a solidão tão convidativa. O vento então passa e começa a tocar seu rosto, assim como o céu se abria e lá estava ela gélida, olhando para aquela mulher. Tão intocável, tão pálida, tão sombria, porém tinha vida... diferente dela.
Parou e pensou a respeito de todos os últimos dias, as coisas dele continuavam no mesmo lugar. Dobrou camisa por camisa e guardou tudo dentro do armário. Olhou para a janela, fechou os olhos e só queria sentir sua presença, o toque suave de suas mãos em seu rosto, o beijo doce...

Um comentário:

  1. Por mais que a solidão seja convidativa, ela não é comparável à crer em algo real; uma meta, um alguém. Ter essa espécie de objetivo, que depois de reflexões e devaneios cresça e conforte o que parecia nunca ser real, ou inalcançável. Estar bem, por mais que exista barreiras, com um aperto junto daquele sentimento amargo e doce ao mesmo tempo. ..E lembrar.

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