Um lampejo de desespero invadiu meu corpo e surgiu a pergunta: e minha infância?
Tenho uma vaga lembrança de um momento com meus cinco anos de idade em que estava sozinha sentada na escada, aquela mesma escada a qual aprendi a subir e descer sozinha. Os remédios de bronquite, os remédios para os problemas no coração, mais remédios e mais remédios. Lembro dos gritos de meus irmãos e das brigas de meus pais, lembro das bebidas pela casa, o cheiro de cigarro e de álcool quando minha mãe e meu pai me abraçavam, as coisas jogadas por todos os lados, mais uma vez esquecida na escola, um afogamento, uma marca de queimadura de cigarro no pé...Apesar de todos esses maus momentos marcantes e os quais dominam a minha mente, também tenho alguns lampejos de bons momentos como aqueles em que estava com um livro na mão e um pelúcia do Snoopy na outra, minha mãe me acompanhava nas leituras. Ou então outro momento em que estava vendo uma fita cassete de aulas em inglês da turma de sexta série de meu irmão e minha mãe do meu lado me incentivando. Aqueles momentos em que brincava com meu irmão e ele me apertava e falava o quanto eu era a irmã preferida dele. Os meus carrinhos que meu irmão quebrava porque ele gostava da cor que eu ficava quando eu chorava, as festas da escola que só minha mãe ia, as minhas comidas preferidas que minha mãe fazia.
Por que quando tentamos lembrar de algo do passado são as piores coisas que vem primeiro na mente? Por que não lembrar dos bons momentos e o quanto aprendemos? O quanto fomos amados, o quando sorrimos, o quanto brincamos e o quanto vivemos, isso sim deve vir primeiro na nossa mente. Os momentos de felicidade devem inspirar a vida, devem nos fazer ficar fortes porque é isso o que realmente valeu a pena.
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